“Criança só vai para creche para brincar, então por que que vai?”. A professora Valdete Tereza da Costa Asevedo, se lembra de ter ouvido comentários assim no início de seu trabalho como Coordenadora Pedagógica de Educação Infantil de Resende (RJ), ainda na década de 90.
Para ela estava claro que, no passado, havia muita dificuldade da sociedade em compreender qual é importância de uma criança brincar. “Até então a brincadeira não era vista como algo importante, algo para o desenvolvimento da criança”, comenta.
Para a professora, preocupava o fato de que, principalmente no período da tarde, as crianças nas creches ficavam sob o cuidado de monitores, normalmente restritas a espaços fechados: “A criança acabava ficando entre quatro paredes, sendo que ela precisa de espaço, principalmente espaço livre, na natureza” explica. Foi a partir daí que a professora iniciou todo um trabalho de conscientização.
“Comecei a fazer um trabalho com monitores, professores e demais para entender como era esse processo de desenvolvimento da criança, o que ela precisava, se ela precisava de mais sol e menos parede. Ficar oito horas dentro de um lugar fechado não há quem aguente” constata a professora.
Valdete, que desde 2008 também é articuladora voluntária da Fundação Abrinq por meio do Programa Creche Para Todas as Crianças — que este ano completa 10 anos — continuou seu trabalho mesmo após deixar o cargo na Secretaria de Educação. Em seguida, no projeto Brincando na Comunidade ela teve a oportunidade de aproximar pais e filhos em comunidades vulneráveis por meio do brincar ao ar livre.
Uma das experiências que trazia para estes locais eram atividades de construção de brinquedos envolvendo pais e filhos. Ela comenta que mesmo brinquedos feitos de jornal eram carregados com todo cuidado pelas crianças depois de prontos “Aquilo tinha um valor emocional muito grande, pois foi a mãe ou o pai da criança que fizeram para ela”.
Sobre as mudanças na forma em que os pais enxergam essa atividade, ela ainda acrescenta: “O brincar é importante para o ser humano. A criança que brinca vai se desenvolvendo de maneira tão integral que ela consegue conviver bem em grupo, respeitar regras em jogos, pois o brincar também traz vários aprendizados. Quando eu passo isso para os pais eles passam a valorizar. Não basta dar o brinquedo, tem que sentar e brincar com o filho, pois não adianta chegar em casa e entregar uma caixa de brinquedos para a criança, tem que brincar com ela”.
A professora pontua que hoje, infelizmente, brincar está sendo novamente esquecido, principalmente fora das salas de aula: “Eu vejo que as crianças estão sentindo falta de mexer o corpo. Eu vejo crianças de 10 anos que não brincam, não sabem pular corda. Isso me preocupa muito, pois este corpo está ficando engessado”. Valdete atribui isso, principalmente, à falta de disponibilidade da cidade em oferecer espaços adequados para esse tipo de desenvolvimento. “Muitas vezes o que existe está precário e vemos a necessidade do resgate do espaço adequado para a criança, principalmente nos bairros, pois o centro das cidades já costuma atender melhor essa demanda” relaciona ela.