O Brasil é um país com histórico de erradicação de diversas doenças, como varíola, rubéola e a síndrome da rubéola congênita (SRC), por meio de campanhas de vacinação organizadas e amplamente realizadas em todo seu território. No entanto, desde 2017, os Indicadores de Vigilância Epidemiológica passaram a demonstrar uma queda na cobertura vacinal em todo o país. Este problema contribuiu para o aparecimento de novos casos de sarampo e pode contribuir, também, para o ressurgimento de doenças previamente erradicadas em território nacional.
Por isso, o Programa Nacional de Imunizações (PNI), reconhecido pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) como referência mundial, realiza a Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite (Paralisia Infantil) e a Campanha Nacional de Multivacinação para Atualização da Caderneta de Vacinação de menores de 15 anos entre os dias 8 de agosto e 9 de setembro, com seu dia “D” de vacinação marcado para 20 deste mês.
O objetivo é evitar o ressurgimento da poliomielite no país e garantir que crianças e adolescentes possam receber as doses de todas as vacinas recomendadas pelo PNI. Com isso, o Brasil reforça o acordo internacional de manter seu território livre da doença, com sua população amplamente protegida.
Sonia Bittencourt, pesquisadora titular em Saúde Pública da FIOCRUZ, comenta sobre a época em que a doença atingiu muitas crianças e adolescentes, assim como reforça a importância da vacinação: “Durante a minha infância, na década de 60, convivi com amigos e vizinhos com sequelas da pólio e ouvia relatos de mortes de crianças pela doença. Ao longo dos anos, já como profissional de Saúde, acompanhei a redução significativa da poliomielite e sua erradicação em 1989 como resultado do exitoso Programa Nacional de Imunizações. A partir de 2016-2017, a cobertura de vacinação por poliomielite começou a desacelerar e em 2021 o Brasil passou a apresentar risco para a volta da doença. O principal pilar para não deixar o vírus da pólio chegar de novo ao nosso país é vacinar toda a população infantil”.
A campanha contra a poliomielite pretende imunizar 95% das crianças brasileiras menores de cinco anos. O país não detecta casos desde 1990 e, em 1994, recebeu da OPAS uma certificação por ser considerado uma área livre de circulação do vírus. No entanto, um relatório de 2021 da Comissão Regional de Certificação (CRC) voltou a classificar o Brasil como território de alto risco para a doença, com 84% dos municípios considerados como de “alto risco” e “muito alto risco” para pólio.
O especialista Ricardo Queiroz Gurgel, membro do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, afirma: “Nossa situação é perigosa e isso se deve a vários fatores. Primeiro, as pessoas já não conhecem a pólio doença, com sua devastadora paralisia que levava crianças e até adultos a ficarem definitivamente com sequelas motoras. Em segundo, a inércia de, mesmo tendo vacinas gratuitas, de boa qualidade e perto de casa, ir até os centros de saúde para vacinar os filhos. Terceiro, pela desinformação que recentemente grupos antivacina têm disseminado com notícias falsas e alarmantes, provocando temor nos pais em relação a este procedimento seguro e historicamente eficaz. E, por fim, o quarto motivo passa por algumas dificuldades pontuais de acesso aos serviços de saúde”.
A vacinação infantil é fundamental para o desenvolvimento pleno e saudável. Por isso, é muito importante que pais e familiares acompanhem as crianças e os adolescentes até o posto de saúde mais próximo de suas residências. Cerca de 40 mil postos espalhados pelo país estão prontos para promover a imunização.
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