O retorno às aulas continua sendo um desafio para o Brasil. Isso porque a insegurança na área da saúde e a incerteza quanto à modalidade de ensino geram muitas dúvidas e precisam de estratégias personalizadas, que levem em conta a realidade e as necessidades de cada local.
Muitas escolas estão retomando gradualmente as aulas presenciais, algumas adotaram o formato híbrido (mescla entre aulas presenciais e online), limitaram a capacidade das turmas para até 50% dos alunos, outras optaram por deixar a frequência facultativa.
Independentemente do formato, o vaivém das aulas presenciais gera muitas dúvidas e exige um esforço coletivo entre família e escola para proporcionar, na medida do possível, a continuação dos estudos com qualidade para os alunos.
Para ajudar nessa responsabilidade conjunta e garantir o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças e dos adolescentes em casa, a Fundação Abrinq conversou com a Adriana Fóz, neuropsicóloga, psicopedagoga e diretora da NeuroConecte. A especialista elencou dicas sobre como preparar um ambiente que favoreça os estudos e como os familiares podem ajudar. Confira:
Qual é a diferença entre o ensino presencial e à distância?
Os aprendizados digital e presencial são muito diferentes em alguns aspectos e parecidos em outros. Nós aprendemos em qualquer ambiente e de qualquer forma, mas o digital requer mais concentração e disciplina, a criança precisa treinar e buscar outras habilidades que não seriam trabalhadas no ambiente presencial.
Por isso, as aulas à distância precisam ser mais curtas e dinâmicas, os professores precisam selecionar o que vão ensinar e fazer isso de uma forma envolvente, precisam partilhar o conteúdo em doses homeopáticas.
Também existe o outro lado, tem professores que mudaram suas práticas, se adaptaram, estão fazendo coisas maravilhosas, mas alguns alunos não dão muita atenção, provavelmente porque já eram alunos que não davam atenção antes. É importante que todos valorizarem a importância do aprendizado. Nós nunca estivemos em um momento em que a Educação é tão fundamental.
Como a família pode ajudar o aluno a se manter motivado e comprometido com os estudos durante as aulas remotas?
É importante a família ressaltar que a escola é realmente muito importante, assim como tudo o que está relacionado a ela, os professores, as informações, os conteúdos. Sempre valorizar o estudo, o aprendizado e entender também que entre a escola e a família tem muito conteúdo para ser trabalhado.
Neste momento, cabe aos pais repensarem a educação de seus filhos, cada um com a sua história, suas limitações ou possibilidades, e incentivá-los, porque o incentivo pode ser dado em qualquer classe social e situação de vida.
De que forma a família pode ajudar os alunos a manterem o foco e estimular a aprendizagem?
Hoje em dia tem muita coisa de qualidade que está sendo disponibilizada pela internet, desde peças de teatro até visitas virtuais ao museu. É importante criar essa curiosidade, porque a aprendizagem começa pela curiosidade e nós não precisamos ser especialistas ou professores para criá-la. Para isso basta a criatividade e o brasileiro é bem criativo.
Precisamos cultivar a disciplina, a perseverança. Não podemos pedir que os pais ensinem o Português, a Matemática, a Ciências ou a Biologia, mesmo porque muitos estão trabalhando, mas se puderem incentivar a busca pelo conhecimento de qualidade, a curiosidade e valorizar o conhecimento já é ótimo.
Em casos em que a criança ou o adolescente não possui acesso à internet ou um equipamento próprio para os estudos, quais seriam as dicas para manter uma rotina de aprendizagem?
Esses alunos podem desenvolver ainda mais algumas competências emocionais como perseverança. A televisão, por exemplo, está provendo muitas informações, muitos programas bons de aprendizagem e formação. Nós precisamos entender que existem outras formas. As escolas também podem oferecer orientações sobre como buscar informações de qualidade. É buscar, entrar em contato com a escola, falar com o professor.
Como preparar um ambiente que facilite a concentração no momento dedicado aos estudos?
Para termos concentração é necessário termos um ambiente que facilite. É possível buscar rearranjar o que tem dentro da casa. De repente pode ser um cômodo que a família pode deixá-lo mais otimizado para o aprendizado ou um cantinho, o canto do estudo e da aprendizagem.
A criança precisa entender que existe um espaço ali que é sagrado do aprender. Colocar o aprendizado com um valor importante e lembrar que ele está em todas as situações.
Em relação à Educação Infantil, quais atividades os familiares ou os responsáveis podem realizar para complementar o desenvolvimento da criança em casa?
É importante dar meios para a criança imaginar e criar coisas, deixar o espaço livre para a imaginação. Realizar atividades ligadas ao movimento, à coordenação motora e a linguagem.
É importante incentivar a leitura além das palavras, a leitura de situações, contextos, estimular de fato a imaginação, isso também é ferramenta e conteúdo de aprendizagem.
Todas as mudanças na rotina da Educação e até mesmo o cenário da pandemia podem gerar situações de estresse e ansiedade, impactando diretamente a saúde mental dos estudantes, como é possível minimizar isso?
É importante nós cultivarmos as competências emocionais. Cultivar na criança o hábito de expressar seus sentimentos, falar, desenhar, conversar e até perguntar. É importante verbalizar e entender que o sentir, o viver a emoção é algo natural.
Na empresa que dirijo nós criamos a sigla PIM, que significa: "P" eu percebo, "I" eu identifico e "M" eu manejo e ensinamos para as crianças. Quando percebemos que alguma está angustiada ou não sabe o que está fazendo nós falamos PIM, que quer dizer vamos perceber o que está acontecendo, o que estou sentindo e como podemos resolver. Nós incentivamos muito o reconhecimento das emoções e isso é muito importante, é a base da aprendizagem socioemocional.
As orientações da especialista podem ser aplicadas em todos os modelos de ensino: à distância, híbrido e presencial, como um apoio complementar aos estudos das crianças e dos adolescentes.
Adriana ainda ressalta que o momento pede mais solidariedade das pessoas: “É importante termos essa responsabilidade com os outros e entender o que o mundo está nos mostrando: a necessidade que temos uns aos outros. Todos nós estamos mais conectados do que imaginamos e somos responsáveis por todos e, por isso, precisarmos agir, mudar e melhorar”, finaliza.
Confira mais dicas de como criar uma rotina que priorize o aprendizado em casa.