Segundo a pesquisa publicada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), divulgada em julho deste ano, 99,3% das escolas brasileiras suspenderam as atividades presenciais durante a pandemia da Covid-19.
A Fundação Abrinq traz as principais informações deste importante estudo que revela que a média brasileira foi de 287 dias de suspensão de atividades presenciais durante o ano letivo de 2020, considerando escolas públicas e privadas.
A pesquisa, denominada Resposta Educacional à Pandemia de Covid-19 no Brasil, aponta que pouco mais de 53% das escolas públicas conseguiram manter o calendário letivo original no ano passado. No ensino privado, cerca de 70% das escolas conseguiram manter a previsão inalterada.
O levantamento foi realizado entre fevereiro e maio de 2021, com a segunda etapa do Censo Escolar 2020. Segundo o Inep, os dados aferidos serão fundamentais para a compreensão das consequências da pandemia no sistema educacional brasileiro. Para isso, o Inep desenvolveu um formulário específico para coletar informações sobre a situação e as estratégias adotadas pelas escolas durante o ano letivo.
Ao todo, 94% das escolas responderam ao questionário aplicado pelo Inep como complementação do Censo Escolar. O percentual corresponde a 97,2% e 83,2% das redes pública e privada, respectivamente.
Ajustes do calendário escolar
O levantamento mostra que 99,3% das escolas brasileiras suspenderam as atividades presenciais. Em função disso, parte delas também ajustou a data do término do ano letivo de 2020, visando o enfrentamento das consequências pedagógicas decorrentes dessa suspensão. As escolas públicas sentiram uma necessidade maior de fazer esta adequação.
A observação das medidas de ajuste do calendário escolar pelas grandes regiões do país, mesmo quando consideradas apenas as escolas da rede pública, reflete condições desiguais de planejamento, execução e infraestrutura destes estabelecimentos de ensino. Nas regiões Norte e Nordeste, a utilização dos ajustes ocorreu na maior parte das escolas públicas, especialmente na última destas regiões, onde mais de 61,6% dos estabelecimentos fizeram uso desta estratégia.
De modo inverso, na região Sudeste, pouco menos de um em cada cinco (37,2%) estabelecimentos informou ter realizado ajustes na data de término do ano letivo de 2020. Nas regiões Sul (29,1%) e Centro-Oeste (21,1%), em média, um quarto das escolas da educação básica pública informou estes ajustes no calendário escolar.
O percentual de escolas brasileiras que não retornaram às atividades presenciais no ano letivo de 2020 foi de 90,1%, sendo que, na rede federal, esse percentual foi de 98,4%, seguido pelas escolas municipais (97,5%), estaduais (85,9%) e privadas (70,9%). Diante desse contexto, mais de 98% das escolas do País adotaram o ensino não presencial.
Estratégias de continuidade às aulas
A realização de reuniões virtuais para planejamento, coordenação e monitoramento das atividades foi a estratégia mais adotada pelos professores para dar continuidade ao trabalho durante a suspensão das aulas presenciais, no Brasil. Na sequência, está a reorganização ou a adaptação do plano de aula, com o objetivo de priorizar habilidades e conteúdos específicos.
Em mais de 2,6 mil escolas públicas do Brasil, a suspensão das atividades presenciais, em razão de inadequações de infraestrutura escolar e domiciliares, impossibilitou a adoção de estratégias não presenciais de ensino e aprendizagem.
Considerados apenas aqueles estabelecimentos públicos de ensino que informaram não ter adotado aulas on line, mais de 88,4% deles estão localizados nas regiões Norte (1.185) e Nordeste (1.172). Neste grupo de mais de 2,3 mil escolas públicas da educação básica, nenhuma estratégia de ensino-aprendizagem remota foi adotada durante o ano letivo de 2020, mesmo que as atividades presenciais tivessem sido suspensas, quantidade sete vezes superior ao total de escolas públicas das regiões restantes somadas.
Acesso à internet
Quando o assunto é acesso gratuito ou subsidiado à internet em domicílio, o levantamento feito pelo Inep mostra que 15,9% da rede estadual brasileira adotou medidas nesse sentido; na rede municipal, o número registrado foi de 2,2%.
A existência de um computador nas escolas públicas da educação básica, independentemente de sua utilização (administrativa ou pelos alunos), é um dos aspectos que expõe as desigualdades regionais de infraestrutura escolar. Das 29,9 mil escolas públicas que não têm um computador disponível, 26,3 mil estão localizadas nas regiões Norte (10.245) e Nordeste (16.104), representando 80,5 dos estabelecimentos brasileiros nesta condição.
A mesma desigualdade é verificada na distribuição do acesso à rede de internet para uso exclusivamente administrativo dos estabelecimentos públicos. Na região Norte do Brasil, mais de quatro em cada cinco (81,5%) escolas públicas não acessa à internet para esta forma de uso e pouco menos de três em cada quatro se encontra na mesma situação na região Nordeste (73,8%), sendo estas as regiões de mais baixo acesso à internet, mesmo que para fins exclusivamente administrativos e não pedagógicos. Cabe ressaltar, entretanto, que a ausência deste modo de uso da rede internet é a realidade média de pouco mais de um terço das escolas das regiões Sudeste (38,2%), Sul (30,3%) e Centro-Oeste (36,9%).
No que diz respeito às estratégias e ferramentas para o desenvolvimento das atividades de ensino-aprendizagem, a disponibilização de materiais impressos para retirada na escola está entre as mais utilizadas.
Aulas ao vivo - Quando se trata da realização de aulas ao vivo (síncronas), verifica-se que 72,8% das escolas estaduais e 31,9% das municipais implementaram a estratégia. Em 2.142 cidades, nenhuma das escolas municipais adotou essa medida.
Ano letivo – Ao todo, 28,1% das escolas públicas planejaram a complementação curricular com a ampliação da jornada escolar no ano letivo de 2021. Na rede privada, 19,5% das escolas optaram por essa alternativa. Além disso, 21,9% das escolas privadas retornaram às aulas com a realização concomitante de atividades presenciais e não presenciais, o chamado ensino híbrido. A estratégia também foi recomendada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). Na rede pública, 4% das escolas adotaram essa medida.
Impacto no aprendizado
De acordo com a avaliação do Ministério da Educação (MEC), os principais riscos decorrentes da suspensão das aulas presenciais estão relacionados entre o comprometimento do calendário escolar, os retrocessos do processo educacional e da aprendizagem dos estudantes, os danos estruturais e sociais para os estudantes e as famílias de baixa renda e o abandono e o potencial aumento da evasão escolar.
O MEC também considera que as existentes fragilidades na estrutura social do Brasil agravam ainda mais esse cenário para as famílias que já se encontravam em situação de vulnerabilidade social antes da pandemia.
E agora?
Neste segundo semestre de 2021, as escolas estão, com o avanço da vacinação no país, retomando as aulas presenciais, o que incentiva os alunos a voltarem ao ambiente escolar.
Porém, um dos sintomas que atingiram em cheio a educação na pandemia foi o aumento da evasão escolar. A dificuldade de acessar o conteúdo das aulas e a necessidade de contornar a crise financeira levou muitos alunos a desistirem das aulas em 2020.
A evasão escolar traz uma série de consequências para a vida da criança e do adolescente. A escola tem o papel de transmitir conteúdo, mas também proporcionar um ambiente que estimule o desenvolvimento social do indivíduo. A longo prazo, tem consequências profundas na economia. A exclusão social e o despreparo aumentam os índices de desemprego, concentração de renda e precarização do trabalho.
Na retomada das aulas presenciais é preciso que algumas ações sejam feitas, como: realizar a busca ativa dos alunos que não retornaram à escola; definir uma forma de avaliação dos alunos e de que modo será realizada a recuperação dos que apresentarem defasagem de aprendizagem e acompanhar os alunos com maior propensão à evasão.
Como fica a saúde mental das crianças
Nesse momento de volta às aulas e de atividades totalmente presenciais, é de extrema importância abordar os aspectos emocionais, as inseguranças, a adaptação do ensino remoto para a presença física nas escolas, e de refletir sobre as novas dinâmicas que surgem no cotidiano escolar – já que ainda estamos em tempos de pandemia.
O retorno às aulas deve priorizar a convivência social e baseado em atividades que estimulem a troca de experiências de como foi esse tempo de distanciamento. Muitos dos impactos causados pelo isolamento social no aspecto emocional se dissolverão com uma convivência leve, alegre e com a segurança das medidas sanitárias necessárias para esse momento atual.
Entenda a pesquisa
Principal pesquisa estatística da educação básica, o Censo Escolar é coordenado pelo Inep e realizado, em regime de colaboração, entre as secretarias estaduais e municipais de Educação, com a participação de todas as escolas públicas e privadas do país. O levantamento abrange as diferentes etapas e modalidades da educação básica: ensino regular, educação especial, educação de jovens e adultos (EJA) e educação profissional.
Gráficos - Fonte: Ministério da Educação (MEC) /Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) /Diretoria de Estatísticas Educacionais (Deed).