Estudos científicos comprovam que o aleitamento materno é o melhor e mais saudável alimento para os bebês e que a prática pode trazer inúmeros benefícios. No entanto, muitas mães que planejaram a amamentação do filho enfrentaram dificuldades ou restrições que as impediram de amamentar como desejavam.
Diagnosticada com COVID-19 a uma semana do nascimento do primeiro filho, Joyce Magalhães, que trabalha no Núcleo Administrativo Financeiro da Fundação Abrinq, foi submetida a uma cesárea de emergência e passou dois dias na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Santa Joana, em São Paulo – SP, em maio deste ano.
Em depoimento, ela conversou sobre a reta final da gravidez, o diagnóstico e como reuniu forças para vencer as dificuldades, amamentar e cuidar de Benjamin, dez dias após o parto.
“A gravidez foi muito tranquila. Trabalhei em home office e programava o parto normal e o processo de amamentação do Benjamin.
Uma semana antes do nascimento dele, no início de maio, alguns familiares meus adoeceram em razão do Coronavírus. A minha sogra foi quem teve os sintomas mais graves. Fernando, meu marido, havia ficado doente no ano passado e acabou se infectando com a nova variante. Foi então que me contaminei.
Comecei com uma dor no corpo. Como estava na reta final da gravidez, procurei o médico para fazer o teste e confirmar que estava doente. Mantive a calma e a tranquilidade. Fui orientada a ficar em casa e a repousar.
No sábado seguinte, enquanto me recuperava, comecei a sentir as dores do parto.
No hospital, após atendimento, o primeiro susto: a médica disse que não seria possível a realização do parto normal, pois o bebê havia evacuado. Fui submetida a uma cesárea de emergência, pois a vida de Benjamin corria risco. O procedimento foi tranquilo e meu filho nasceu saudável.
No segundo dia de vida do meu bebê, pude ficar um pouco com ele. Mas estava muito fraca, resultado dos sintomas da doença, e não consegui amamentá-lo. A equipe médica colocou um cateter de oxigênio e tive a saturação sendo aferida o tempo todo pelos enfermeiros.
Na segunda-feira, terceiro dia de hospital, realizei exames para saber como estava o nível de comprometimento do meu pulmão. A saturação de oxigênio baixava rapidamente, mas não sentia a falta de ar. A recomendação médica era a minha transferência para a UTI, pois havia realizado uma cesárea a poucos dias e necessitava de cuidados.
No início da manhã seguinte, acordei na UTI. Estava muito fraca. Era a única paciente consciente naquele local. Olhava para os lados e via outras mulheres, que também haviam sido mães recentemente, intubadas.
Fiquei dois dias ali. Não foi fácil. Busquei forças dentro de mim e contei com o apoio do Fernando, que conversava comigo por meio de chamadas de vídeo, no celular. Soube que meu filho estava bem e em casa com ele e meus pais, recebendo alimentação por meio de fórmulas.
Senti um alívio quando voltei para o quarto. Meu marido podia me visitar e falava um pouco como era o nosso filho. Desde que Benjamin nasceu, só fiquei dois dias com ele e não pude amamentá-lo como desejava. Fernando contou que o bebê teve alta no mesmo dia em que dei entrada na UTI. Orei para que meu filho estivesse bem. Os médicos fizeram o teste assim que ele nasceu e, por sorte, ele não teve a doença.
Dez dias após a minha chegada ao hospital, pude voltar para casa e, finalmente, pegar o meu filho no colo. A emoção foi grande.
Quando voltei para casa, iniciei o aleitamento materno. Mas, apenas o meu leite já não era suficiente para ele e permaneci com as fórmulas.
Neste período, houve um episódio muito triste em minha família: o falecimento de minha sogra, de 53 anos, internada com a COVID-19. Ela não chegou a conhecer o Benjamim. Durante os três dias do período do falecimento ao sepultamento, o bebê ficou somente com os meus pais.
O Fernando, meu marido, é muito presente e me ajuda a cuidar do bebê: dá banho, mamadeira, troca as fraldas. Ele me fortaleceu muito enquanto estive no hospital.
Em casa, meus pais e familiares ajudam com as tarefas do dia a dia e consigo me dedicar ao Benjamin. Atualmente, estamos todos juntos e com saúde. O momento difícil já passou”.
“No dia em que ela foi para a UTI, fiquei sozinho com o Benjamim no quarto do hospital”
Fernando, marido de Joyce, relembra emocionado dos momentos de preocupação quando a esposa testou positivo para a doença e cuidou de seu filho recém-nascido enquanto a mãe estava na UTI.
“Quando soube que ela estava doente, fiquei preocupado, embora soubesse de sua boa saúde e que não pertencia a grupos de risco. Mas, como ela se contaminou com uma variante mais grave da doença, a recuperação dela foi mais lenta.
Realmente fiquei com medo quando ela precisou ficar e, triste também por ter que deixar o hospital com o meu filho sem a presença dela. Senti uma frustração, pois foram muitas as vezes em que sonhamos com o dia de sairmos os três juntos do hospital. Mas, ao contrário, ela ficou e ainda foi levada para a UTI.
Escolhemos a roupinha de saída do bebê da maternidade. Mas a Joyce só pôde vê-la por foto, dias depois.
Apesar das dificuldades, sempre procurei pensar em coisas boas. O Benjamim, por exemplo, não testou positivo para a COVID-19.
Comprei o leite em fórmulas para que ele tivesse uma alimentação adequada, mesmo sem o aleitamento materno. Corri atrás das coisas necessárias para ele, mas com a cabeça e o pensamento nela.
Joyce sentiu medo, pois viu de perto outras mães em situação semelhante, que acabaram de ter seus filhos, intubadas na UTI. Passei o máximo de conforto e confiança a ela, orando e tranquilizando-a sabendo que o bebê estava saudável em casa.
Ela foi para a UTI na terça-feira, logo pela manhã. Fiquei sozinho com o meu filho no quarto uma tarde inteira até que ele tivesse alta.
Dois dias depois, quando a Joyce foi para o quarto, deixei o bebê com os pais dela e retornei ao hospital para ficar junto a ela até que recebesse a alta. Aí, vi que o pior já havia passado.
Agora, estamos todos em casa, muito bem e felizes e orientando nossos conhecidos para que não negligenciem os cuidados com o Coronavírus e se cuidem”.
Neste Agosto Dourado, considerado o mês do aleitamento materno no Brasil, conheça outras histórias e emocione-se.
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