Diariamente, as escolas passam a adquirir novas responsabilidades perante a formação integral das crianças, dado que, em muitos casos, a rotina familiar gera uma distância entre as famílias e o aprendizado dos filhos.
Essa relação traz impactos bastante negativos para o desenvolvimento afetivo e pedagógico das crianças, principalmente, na educação especial, que torna essa realidade ainda mais complexa, visto que muitas pessoas têm dificuldades para dimensionar e até compreender a deficiência em suas múltiplas formas.
Em muitos casos, as famílias ainda precisam entender seu real papel no desenvolvimento da criança com deficiência, enquanto a escola precisa mostrar que todo avanço, por menor que seja, é uma grande conquista.
“Toda vez que estamos falando com uma família de alguém com deficiência, precisamos pensar na expectativa. Todo casal ao ter um filho tem expectativas e, de repente, vai por água abaixo e ele passa por um processo de luto, onde precisa desconstruir o filho idealizado para aceitar o filho real”, explica Fabio Oliveira, pedagogo com habilitação em Educação Inclusiva e especializado em Autismo e Saúde Mental.
“A escola precisa entender que essa dor ela desconhece. Não sabemos que dor é essa, então cabe a nós respeitarmos esse tempo e sempre enaltecermos as competências da criança e não o que ela não tem capacidade”, completa.
Sendo assim, é fundamental a escola e a família criarem, juntas, um espaço para essa relação, posto que o apoio é uma das maiores motivações para o deficiente desenvolver e aprimorar aspectos psicomotores, físicos, intelectuais, sociais e emocionais, que envolvem o processo de aprendizagem.
“Para que essa relação entre família e escola seja efetiva e eficaz, as instituições de ensino devem realizar atividades que cativem e gerem interesse nos pais, em paralelo, as famílias precisam organizar suas rotinas para participar de todas as atividades e incentivar, a todo momento, o desenvolvimento dos filhos”, afirma Andrea Cristina Corrêa, pedagoga, presidente do Instituto Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento da Infância de Mato Grosso do Sul e articuladora do Programa Creche para Todas as Crianças.
Dessa forma, elas passam a compreender melhor e com uma nova perspectiva o desenvolvimento das crianças.
“Quando a criança sai de uma escola onde todo mundo gosta, ela conta para a mãe o sucesso que ela está tendo e essa mãe abraça e beija, essa criança é mais feliz. Passa-se a comemorar todas as vitórias, independente da deficiência”, ressalta Fabio.
Além de proporcionar a inclusão no meio escolar e social para as crianças com deficiência, a prática aproxima os familiares e estreita os laços afetivos com os filhos e as escolas.
“A partir do momento que entendemos a deficiência e comemoramos o sucesso, ajudamos a família desconstruir o idealizado e aceitar o real e isso só gera alegria e felicidade para todo mundo”, finaliza.
Para promover essa relação e parceria entre a escola, a criança e seus familiares, a Fundação Abrinq realiza treinamentos, por meio do Programa Creche para Todas as Crianças, sobre o tema Trabalho com Famílias, a fim de estimular reflexões sobre a importância da interação.
“A participação da família na escola é fundamental para a promoção do aprendizado da criança, pois a educação é um processo que não ocorre apenas na escola ou na família, é um processo que permeia todos os meios sociais que a criança convive. Muitas crianças apresentam reflexos do que vivenciam em casa na escola e muito do que aprendem na escola reproduzem em seu ambiente familiar. Por compreender que essa participação é imprescindível para a promoção do desenvolvimento integral da criança, o programa inclui a temática nos treinamentos realizados”, explica Daniela Florio, coordenadora do Programa Creche Para Todas as Crianças.
As escolas participantes do programa realizam um encontro com os familiares dos alunos, visando aproveitar o calendário escolar com uma ação diferente, que possibilite uma experiência coletiva com o foco no desenvolvimento integral das crianças, independentemente de suas limitações, promovendo, assim, a compreensão do processo de aprendizagem em diferentes linguagens e contextos.