O pré-natal é essencial para garantir que a mulher e o bebê tenham uma gestação e um parto saudáveis e sem nenhuma complicação. O acompanhamento além de prevenir e diagnosticar precocemente doenças e problemas que podem se agravar, também orienta a mulher sobre temas importantes referentes a maternidade.
A enfermeira obstetra, Cristiane Paiva, explica a importância e tira as principais dúvidas sobre o pré-natal. Confira todas elas:
O que é o pré-natal?
O pré-natal é o acompanhamento que fazemos da gestante, desde o momento que confirmamos a gravidez até o período do parto. Posteriormente temos o acompanhamento puerperal – realizado no pós-parto.
Qual é a finalidade?
O pré-natal tem o objetivo de monitorar a gestante, uma vez que ela passará a ter demandas fisiológicas relacionadas a gestação como por exemplo, a pressão arterial, o ganho de peso, a alimentação, o crescimento do bebê intrauterino, sua movimentação, ou seja, tudo que pode acontecer e trazer algum agravo no período gestacional.
Existem tipos diferentes de pré-natal?
Ele vai se dividir em dois tipos:
1. O pré-natal de risco habitual, destinado à gestante que não apresenta nenhum tipo de comorbidade (duas ou mais doenças simultâneas) ou doença que possa se agravar no período da gestação.
2. O pré-natal de alto risco, destinado a mulheres que já possuem ou que vão desenvolver durante a gravidez algum fator patológico que pode afetar diretamente a gestação, por exemplo, mulheres que já são hipertensas. Nessa fase elas precisam de um acompanhamento de alto risco, de um olhar especializado do médico obstetra ou outros especialistas dependendo do problema.
Quais são os profissionais responsáveis pelo acompanhamento?
O pré-natal de risco habitual pode ser feito pelos enfermeiros ou médicos da unidade básica de saúde, não necessariamente um médico obstetra. Os atendimentos dos enfermeiros podem ser intercalados com as consultas médicas.
Já no caso do alto risco, precisamos de uma equipe múltipla. Além do obstetra que realizará o acompanhamento, vamos precisar da enfermeira obstetra, nutricionista, psicólogo, podemos ter também um fisioterapeuta, ou seja, precisamos envolver outros profissionais no processo. Para estes casos, existem unidades específicas que fazem o acompanhamento de alto risco da gestante, que não são as unidades básicas de saúde.
Todo município tem essas unidades específicas de saúde?
A maioria sim. Quando algum município não tem, ele precisa encaminhar. Às vezes, o município é pactuado com uma cidade sede, que vai disponibilizar esse serviço para as gestantes de alto risco. Enquanto o acompanhamento do risco habitual é feito nas próprias cidades.
Qual é o número ideal de consultas?
Atualmente o Ministério da Saúde preconiza que o mínimo sejam 6 consultas. Quando conseguimos atingir o número mínimo ficamos muito satisfeitos, porque, às vezes, temos uma dificuldade muito grande na captação precoce das gestantes.
Quando a mulher descobre, ela já está com a gestação adiantada, entre 18 e 20 semanas, o que muitas vezes nos impossibilita realizar as 6 consultas dentro do período gestacional.
Como o pré-natal impacta na gestação?
Um pré-natal bem feito impacta não só na mulher, mas no nascimento e no bebê que está vindo.
Às vezes as pessoas se preocupam muito com o parto e esquecem do pré-natal. O parto é um processo natural, existem mulheres que parem no caminho para o hospital ou dentro do carro, o que vai determinar a viabilidade do nascimento da criança foi o que aconteceu antes.
O pré-natal é de suma importância. Ele vai culminar com o nascimento do bebê, com a saúde dele, tudo isso será determinado pelo o que aconteceu durante o acompanhamento.
Já recebemos gestantes que não passaram por nenhuma consulta de pré-natal e, nestes casos, assistimos um parto às escuras, porque não sabíamos o que aconteceu com a mulher, como estava o bebê, em que condições ele estava. O pré-natal bem feito, ou seja, uma mulher que foi bem acompanhada, vai impactar de forma muito positiva no parto e também na vida dessa criança no decorrer de sua infância.
Quais problemas ou doenças ele previne?
Durante o pré-natal trabalhamos o monitoramento. Monitoramos a pressão arterial para verificar qualquer tipo de alteração e assim evitarmos que evolua para uma eclampsia ou pré-eclâmpsia. Tem mulheres que desenvolvem doenças hipertensivas na gestação e conseguimos controlar com medicamentos, atividades físicas e alimentação até o final da gestação.
É possível prevenir e tratar infecções urinárias, obesidade na gravidez, diabetes gestacional. Ou seja, fazer o monitoramento correto, com os exames laboratoriais, vai contribuir para que tenhamos um nascimento como realmente esperamos, muito positivo.
Quando essas doenças não são prevenidas e tratadas podem afetar o bebê?
Podem. Podem gerar o parto prematuro, sequelas e até o óbito fetal.
Temos muitos casos de bebês que têm restrição de crescimento intrauterino por causa de doenças hipertensivas. No caso das diabéticas, vamos ter a macrossomia fetal, que são bebês que crescem muito, e acarreta em outros problemas para eles. O pré-natal monitora uma série de fatores que impactam diretamente na saúde do bebê e sua infância.
O que deve ser abordado nas consultas de pré-natal?
É necessário abordar não só os fatores físicos, mas também os emocionais da mulher.
Monitorar toda a parte física de crescimento do bebê, como está o estado geral da mulher, os sinais vitais, quais queixas ela traz nas consultas como os incômodos que são normais na gravidez, por exemplo, o enjoo, a azia, dor de cabeça. São sintomas normais da gestação que precisamos trabalhar para que ela tenha uma melhora.
Observar os aspectos psicológicos, como a mulher está lidando com a gravidez, se foi desejada ou não, como está sendo para ela a evolução, bem como, trabalhar o aspecto educativo e de preparação da gestante para o parto e aleitamento materno.
O pré-natal é um direito da mulher!
O pré-natal além de ser primordial, é um direito assegurado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente para todas as mulheres. Todas as gestantes têm o direito de serem acompanhadas, acolhidas e receberem toda a assistência necessária para o período.
“Precisamos mudar o nosso olhar e o nosso foco em relação a gestante como a priorização dentro dos processos, porque quando tratamos de uma gestante, não estamos tratando uma vida, estamos tratando duas, às vezes, três ou até mais a depender do tipo de gravidez. Assim como a mulher também precisa entender que a assistência é um direito dela e buscar esse direito para que possa caminhar dentro desse processo gestacional com a qualidade que precisa”, finaliza Cristiane.