Até onde você iria para cessar a fome de alguém?
A Fundação Abrinq viajou mais de 2.600 km, de São Paulo até Pernambuco, para aliviar o sofrimento de 280 crianças e suas famílias que sofrem com os impactos das fortes chuvas que atingiram as cidades pernambucanas entre os meses de maio e junho.
Desde 2021, a Giral Desenvolvimento Humano e Local é uma das organizações apoiadas pela Fundação Abrinq e recebe, mensalmente, apoio técnico e financeiro da instituição.
Nos últimos meses, a organização localizada em Glória do Goitá – PE identificou centenas de crianças e seus familiares, residentes de comunidades próximas, que precisavam urgentemente de apoio para conseguirem se alimentar. A situação de vulnerabilidade social vivenciada por eles se intensificou quando muitos distritos, como o de Apoti, ficaram ilhados pelas chuvas que ocorreram no primeiro semestre. Foram quase dois meses sem acesso à outras localidades, isso porque a principal estrada que dá acesso à zona rural é de terra, ou seja, ninguém conseguia entrar e muito menos sair de lá.
Foram dois meses sem receber ajuda, sem frequentar a escola e, acima de tudo, sem saber o que esperar do futuro.
A agricultura, principal forma de renda de Apoti, também foi afetada. Muitas famílias que vivem no local e dependem exclusivamente da lavoura relataram que, devido às chuvas, perderam suas plantações. Sem a colheita, o prejuízo é a única certeza delas.
“A chuva para nós que moramos no interior e necessitamos da agricultura familiar, que trabalhamos diretamente na terra, é uma coisa boa, mas como veio muito forte acabou dificultando os plantios para as famílias. Muitas falaram que perderam suas lavouras, hortaliças, foi um momento muito crítico que até hoje elas sentem”, explica Leandro Moura, educador social da Giral Desenvolvimento Humano e Local.
Ao saber do ocorrido, a Fundação Abrinq prontamente começou a mobilizar recursos para ajudar a minimizar os impactos negativos do desastre. No dia 19 de agosto, marcado pelo Dia Mundial Humanitário, a organização, por meio do Programa Emergência, esteve presente em Apoti para doar uma primeira leva de alimentos e materiais escolares para a comunidade afetada.
O dia amanheceu ensolarado, com o termômetro atingindo 27ºC, cenário totalmente diferente dos últimos meses. Ao chegar no local, as crianças brincavam e cantavam com os educadores da Giral, que levaram a biblioteca itinerante para incentivar a leitura e o acesso à Educação.
Enquanto as crianças se divertiam com as histórias narradas pelos profissionais, os familiares estavam do outro lado do campo retirando as cestas básicas e compartilhando um pouco da angústia vivenciada nos últimos meses.
Como é o caso da Mirtes, mãe da Jéssica*, de apenas 3 anos, do Rhuan*, de 11, e do Mateus*, de 16. Com as chuvas, sua casa encheu de água, no entanto, ela e sua família não chegaram a perder nenhum item material ou de consumo.
Ao ser questionada como a doação ajudaria no dia a dia, Mirtes confessou que o único sustento familiar é proveniente do trabalho do marido. Ela já trabalhou como agricultora, mas precisou parar quando a filha mais nova foi diagnosticada com autismo. Hoje, se dedica ao tratamento da Jéssica e aos cuidados dos outros filhos.
“Agora eu não posso trabalhar porque ela tem as terapias para fazer. Só o meu esposo trabalha. Ele lava massa na casa de farinha. Sai na segunda e chega só na sexta, mas tem vezes que nem vem para casa”, afirma.
Aynoa, mãe de dois filhos, um de 14 anos e um de 17, e sua cunhada Maria José, mãe de duas crianças de 6 e 13 anos, também foram beneficiadas pelas doações: “Muito bom que a gente ganhou essa cesta, porque os nossos maridos são agricultores e só pegam bicos. Isso dá uma ajuda para gente. Para quatro pessoas [a cesta] dura só uma semana, mas ajuda muito. É um alívio”, conta Aynoa.
Além das cestas, cada criança presente na ação recebeu uma mochila com itens escolares, fundamentais para o desenvolvimento de atividades educativas. E, de acordo com Aynoa, os materiais também fazem a diferença.
“A gente quer que eles estudem, porque nós já não temos um bom estudo, então queremos que nossos filhos tenham. Quando a gente tem dinheiro para comprar [material escolar], a gente compra, quando não tem ganhamos ajuda da família. Um dá um caderno, outro dá um lápis e assim vai”, menciona.
As dificuldades enfrentadas pela Maria Helena e sua família também são inúmeras. O seu salário é o único sustento que ela, seus dois filhos e seu marido têm. No entanto, com a alta dos preços, pagar as contas e comprar o essencial se torna cada dia mais um desafio.
“As cestas vão ajudar bastante nas condições financeiras, porque eu recebo um salário mínimo e as coisas estão muito caras. Então não dá para a gente se estabelecer bem. É somente o meu salário para tudo, fica difícil pagar energia, água, botijão, não dá conta”, desabafa.
No final do mês, Maria Helena, assim como milhares de outras famílias, precisa fazer escolhas para conseguir manter a casa e minimamente a alimentação de todos. Neste momento, alimentos como a carne ficam de fora: “O quilo da carne está quase 40, 50 reais. Se a gente compra, como paga as outras coisas?”, indaga.
Por todos estes motivos, Maria Helena deixa claro que a doação será muito bem aproveitada para durar o maior tempo possível.
“A duração da cesta básica depende da maneira que você vai consumir. Se você economizar, vai durar um pouco mais e se desperdiçar, vai acabar rápido. Mas eu gosto muito de economizar porque a gente sabe que as coisas não estão fáceis. É uma ajuda muito boa e vai beneficiar muitas famílias carentes, porque não são todos os dias que essa oportunidade bate na nossa porta, então a gente tem que abraçar”, comenta.
Conforme as entregas das cestas foram finalizadas, as atividades com as crianças também encerraram para que elas pudessem ir à escola. Ao final, elas receberam as mochilas e saíram sorridentes com os materiais novos.
Ao todo, foram doadas 50 cestas básicas e 61 mochilas com cadernos, estojos e itens fundamentais ao aprendizado. A Giral Desenvolvimento Humano e Local também recebeu três acervos, com 87 livros, para complementar a biblioteca itinerante e a que fica na sede da instituição.
Para Leandro, educador da organização, o gesto da Fundação Abrinq e de todas as pessoas que proporcionaram a ajuda humanitária vai muito além de uma simples doação: “vocês não fazem só uma doação de material, mas sim uma doação de esperança, de amor, de uma visão de futuro melhor para cada família que é atendida”, finaliza.
Novas doações serão realizadas em outros distritos que também foram atingidos pelo desastre em Pernambuco. Por isso, faça uma doação única e ajude a Fundação Abrinq a continuar realizando ações como esta!
Acompanhe o site e as redes sociais da Fundação Abrinq.
Emocione-se com as primeiras fotos da ação.
* Nomes alterados para preservar a identidade das crianças e dos adolescentes.