Em 2020, uma em cada quatro denúncias registradas no Brasil é sobre violência contra crianças e adolescentes. São 95,2 mil denúncias de violações contra este grupo vulnerável, resultando em uma média de 261 denúncias ao dia e 11 denúncias por hora.
Estes dados alarmantes fazem parte de levantamento divulgado pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, através de seus canais oficiais – Disque 100 e Ligue 180.
Em março deste ano, um caso de violência contra crianças chocou o país: o do menino Henry Borel, de 04 anos, no Rio de Janeiro. As agressões físicas ocorriam dentro de casa, sendo o padrasto e a própria mãe suspeitos do crime. Os sinais de alerta foram emitidos, mas não a tempo, infelizmente, de evitarem a morte do pequeno.
Em 2014, a vida do pequeno Bernardo Boldrini, de 11 anos, foi tirada de forma brutal por aqueles que deveriam ser os responsáveis pela sua proteção, no município de Três Passos, Rio Grande de Sul. O menino foi morto pela madrasta, com a participação do pai, o médico Leandro Boldrini, e de dois irmãos amigos do casal. Os quatro responsáveis foram julgados e condenados.
Bernardo era vítima constante de maus tratos dentro de casa. Foi encontrado diversas vezes perambulando pelas ruas, com fome. A avó materna do menino tentou, sem sucesso, a guarda dele. O pequeno foi assassinado devido a ingestão de alta quantidade de Midazolam, substância usada como sedativo em operações cirúrgicas, e que, em dosagens inadequadas, é capaz de provocar uma parada respiratória.
Outro caso que comoveu a sociedade ocorreu em 2008. A menina Isabella Nardoni, de apenas 5 anos, morreu ao ser arremessada do apartamento no condomínio onde morava o seu pai e a madrasta. O seu corpo possuía sinais de agressão. O caso foi a julgamento por júri popular, em 2010, que considerou o casal culpado por homicídio triplamente qualificado e fraude processual. O pai de Isabella foi condenado a 31 anos de prisão, enquanto a madrasta foi sentenciada a 26 anos de cadeia.
Em todos estes casos, a violência ocorreu dentro de casa, enquanto as crianças estavam sob os cuidados de quem deveria protegê-las.
A violência está mais perto de nós do que imaginamos. Em muitos casos, precisamos estar atentos aos sinais e comportamentos das crianças e os adolescentes para sabermos como agir.
Panorama na pandemia
Com o isolamento social, medida necessária para conter o avanço da COVID-19 no Brasil, muitas crianças e adolescentes ficaram ainda mais vulneráveis e expostos à diversas violências e, sem contato com demais familiares, profissionais de educação e outros adultos.
Antes, as escolas eram os principais locais onde um indício de maus tratos ou violência sexual era percebido. A própria unidade de ensino acionava o conselho tutelar que dava andamento ao caso. Hoje, como a maior parte das crianças está longe das escolas, esta atuação preventiva fica impossibilitada.
Violência sexual também é realidade no Brasil
Todos os dias cerca de 38* crianças e adolescentes de até 17 anos são vítimas de violência sexual no Brasil. No ano passado, mais de 14 mil denúncias foram registradas no Disque 100 e no Ligue 180, do governo federal, envolvendo algum tipo de violência sexual contra este público. Este número pode ser bem maior ao considerar que muitos casos não são denunciados aos órgãos oficiais.
Mais de 80% dos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes acontecem na casa da vítima e em 78,7% das notificações, o agressor era uma pessoa de confiança da família.
A violência sexual é a terceira violação mais incidente contra crianças e adolescentes, com 23,4% de registros. A vítima é, em grande maioria, do sexo feminino, sendo 84% do total, e adolescente, com faixa etária entre 12 e 17 anos.
#PodeSerAbuso
A Campanha Pode Ser Abuso foi criada em 2018, pela Fundação Abrinq, para mobilizar as pessoas para o tema e as suas consequências. Neste ano, a iniciativa tem como foco alertar a população para os sinais que podem indicar possíveis casos de violência sexual, bem como ressaltar o papel da sociedade na proteção das crianças e dos adolescentes.
“A Fundação Abrinq traz esta campanha pelo quarto ano consecutivo, com o objetivo de sensibilizar a sociedade a respeito dos sinais que as crianças demonstram quando expostas a situações de violência. Queremos unir forças e fazer com que esta situação saia do silêncio e os casos sejam denunciados”, enfatiza Victor Graça, gerente executivo da organização.
Como participar
Você pode fazer a diferença na vida de muitas crianças e adolescentes. Faça o download dos materiais da campanha, compartilhe o assunto com familiares e amigos e conheça mais sobre esta prática que, infelizmente, ainda acontece em todo o Brasil. Uma violência que pode ter consequências graves para as suas vidas.
Compartilhe os materiais nas suas redes sociais com a hashtag #PODESERABUSO e convide os seus contatos para conhecer os sinais que indicam possíveis casos de abuso sexual. A sua atitude pode mudar para sempre o futuro de uma criança.
Clique aqui para acessar o kit completo da campanha.
Abuso sexual é crime! Denuncie. Disque 100, ligue 180 ou vá até a delegacia mais próxima.
(*) Dados do Disque 100 e Ligue 180