Atuar em conjunto com a gestão municipal de Saúde para ampliar a cobertura vacinal contra poliomielite.
O Brasil mantém um dos maiores programas de imunização globalmente reconhecidos, disponibilizando cerca de 45 tipos distintos de imunobiológicos para atender toda a sua população. O programa engloba vacinas voltadas para todas as faixas etárias, realiza campanhas anuais para garantir a atualização das cadernetas de vacinação e também oferece vacinas especiais para situações clínicas específicas. Estas últimas são administradas nos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIE). No entanto, o país vem apresentando acentuada queda na cobertura vacinal e, desde 2016, é o segundo país com maior risco das Américas quando o assunto é o surgimento de novos casos de poliomielite. De acordo com a última análise de riscos feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil está em situação de eminência da doença, superado na região apenas pelo Haiti. Trata-se de uma situação que causa preocupação, uma vez que a doença foi considerada erradicada em solo brasileiro na década de 90, sem notificações de casos desde 1989. Além disso, o país foi considerado livre de circulação do poliovírus desde 1994, segundo certificação da OMS.
Se tratando de imunização contra o poliovírus, a OMS recomenda 95% de cobertura vacinal para a população. Entretanto, no ano de 2021, a cobertura nacional para as primeiras aplicações da vacina em crianças de até um ano de idade foi de 76%. Já para a dose de reforço, aplicada em crianças de até quatro anos de idade, foi de 68,5%.
A queda na cobertura é um problema grave e têm diversas variáveis, incluindo a falta de insumos em determinadas regiões do país ou até mesmo dificuldades na logística de acesso até as Unidades Básicas de Saúde (UBS). Outro fator que tem contribuído com o reaparecimento de doenças consideradas erradicadas é a hesitação para vacinar, apesar da disponibilidade da vacina. Este comportamento é influenciado por alguns fatores inter-relacionados como a confiança, complacência e conveniência, conhecidos como modelo dos “3 Cs”, proposto pela OMS em 2011. A confiança está relacionada à eficácia e segurança das vacinas, ao sistema de Saúde que as fornece e às motivações dos gestores para recomendá-las. Já a complacência é resultado da baixa percepção de risco de contrair a doença. Desta forma, a vacinação não seria considerada necessária. Por fim, a conveniência considera a disponibilidade física, disposição para pagar, acessibilidade geográfica, capacidade de compreensão e o acesso à informação em Saúde.
É possível destacar ainda o crescimento dos movimentos antivacinas, a propagação de informações falsas que geram incertezas sobre os possíveis efeitos da vacina mesmo frente a evidências empíricas da segurança no processo de imunização, a desinformação, a falta de campanhas, o esquecimento histórico da doença, a falta de treinamento dos recursos humanos para a aplicação de vacinas, o enfraquecimento das ações de educação em Saúde e a queda na busca ativa dos usuários pelos agentes comunitários de Saúde, principalmente durante a pandemia.
Tais variáveis resultam em um retrocesso no progresso conquistado nas quatro décadas de avanço do Plano Nacional de Imunização (PNI) no controle de doenças como a poliomielite, que podem ser prevenidas por meio da vacinação.